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Busto de Pitágoras. Museus Capitolinos (Roma) |
A
Escola Pitagórica
A filosofia de
Pitágoras empreendeu os primeiros passos do materialismo para o idealismo.
Pitágoras, fundador dessa escola, viveu no século VI A.C. Parece que ele não
escrevia pessoalmente suas obras filosóficas, limitava-se à prédica verbal das
próprias concepções. A doutrina autêntica de Pitágoras está conturbada por uma série
de lendas inventadas posteriormente por seus discípulos, que o consideravam um
"homem-deus", capaz de realizar milagres.
Pitágoras nasceu e
viveu durante muito tempo na ilha de Samos. Quando, em consequência dum
movimento revolucionário, foi ali derrubado o poder da aristocracia, e
implantado o regime democrático, Pitágoras viu-se obrigado a fugir e fixou
residência na cidade de Crotona (sul da Itália). Nessa cidade fundou uma
original organização política e filosófica da aristocracia: a União Pitagórica.
Numa série de outras regiões da Grécia formaram-se depois secções dessa União.
Sua finalidade era a luta pelo Poder, contra a democracia. Mas também em
Crotona rebentou uma revolução contra o partido aristocrático Pitagórico, e seu
fundador viu-se, portanto, obrigado a fugir dali, morrendo no desterro.
Pitágoras,
baseando-se no fato das substâncias poderem ser matematicamente calculadas e
medidas, estabeleceu como fundamento de tudo o que existe, não um princípio
sensorial, material, como tinham feito os filósofos mileteanos e Heráclito, mas
o número, a abstração quantitativa, sem qualquer fundo material. Conhecer as
coisas e o mundo supõe, conforme pensavam os pitagóricos, conhecer os números,
cujas leis regem o mundo.
Os pitagóricos punham
o número como fundamento do mundo, porque todos os corpos estão delimitados por
superfícies, as superfícies por linhas, as linhas por pontos. Partindo dessa
base, reduziram a essência das substâncias a número de pontos, número ao qual
consideravam como o princípio das coisas. Ao tomar o número como o princípio
primário de todas as coisas, afastaram-se do materialismo, aproximando-se do
idealismo. Esta corrente idealista foi ainda mais acentuada pelos discípulos de
Pitágoras, os quais começaram a abordar os números de uma maneira mística,
divinizando-os. O número dez, por exemplo, era considerado por eles, divino e
perfeito.
O mérito histórico
dos pitagóricos provém de que, "pela primeira vez emitem o pensamento
sobre as leis a que está sujeito o universo", sob a forma de relações
numéricas. Os pitagóricos descobriram a existência dos aspectos quantitativos
no mundo, as relações numéricas entre as coisas. Contudo separam esse aspecto
quantitativo da variada forma qualitativa das coisas, reduzindo todo o mundo a
um número simples e abstrato. Estenderam a mística dos números a todo o
universo. Ao redor do fogo, que serve de centro, segundo a opinião dos
pitagóricos, giram dez esferas ou planetas. Em seu movimento cada uma delas
emite um som de tonalidade especial de acordo com a grandeza da esfera e a
velocidade do seu movimento. A ressonância das dez esferas em movimento tem um
caráter musical, harmônico, que entretanto, por estarmos acostumados a ela, não
ouvimos, como o ferreiro não percebe o golpe do martelo.
O centro do universo,
segundo a doutrina dos pitagóricos não é a terra e sim o fogo. Dessa forma, a
concepção pitagórica do universo, apesar do seu caráter fantástico, dá um passo
para o sistema heliocêntrico do mundo. A existência da harmonia das esferas fala,
segundo o pensamento dos pitagóricos, da presença de uma ordem mundial, de uma
lei que a rege, condicionada pela harmonia dos números. Tudo no mundo acha-se
submetido à lei numérica, incluindo a própria vida social. Qualquer luta de
contrastes é, segundo o ponto de vista dos pitagóricos, uma desordem, uma
violação do equilíbrio, e, portanto, não deve existir.
Também é verdade que,
na doutrina dos pitagóricos, há elementos de dialética. Eles afirmavam que a
base de todos os números era a unidade, por ela conter propriedades antagônicas
dos números pares e impares. Ao ajuntar uma unidade ao número par obtém-se um
número ímpar (2 mais 1 são 3), e juntando a unidade ao número ímpar obtém-se o
número par (3 mais 1 são 4). Reconheciam a existência do contraste: o limitado
e o ilimitado, ímpar e par, unidade e multiplicidade, direita e esquerda,
masculino e feminino, repouso e movimento, reta e curva, luz e escuridão, bem e
mal, quadrado e paralelogramo. Mas, contrariamente a Heráclito, esses
contrastes, na opinião dos pitagóricos, são de caráter externo: acham-se só
frente a frente, sem lutar entre si e sem transformar-se um no outro.
Pitágoras e seus
discípulos, porém, desempenharam ao mesmo tempo um papel considerável no
desenvolvimento da ciência, especialmente das matemáticas. Basta recordar o
famoso teorema de Pitágoras: num triângulo retângulo, o quadrado da hipotenusa
é igual à soma dos quadrados dos catetos. Outro de seus teoremas é o que afirma
que a soma dos ângulos de um triângulo é igual a dois ângulos retos. Os
pitagóricos estudaram o cubo e outras figuras geométricas. Parece que muitas
conclusões geométricas de Euclides foram copiadas dos pitagóricos. A estes
correspondem também o mérito da descoberta dos números quadrados, da proporção,
da média aritmética, da tabela de multiplicação.
Fonte: História da Filosofia
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